sexta-feira, 5 de abril de 2019

culpa.

olhar pela janela, mas não estar realmente olhando. tantos pensamentos, mas ao mesmo tempo nenhum; aquilo era comum. vazio. falta de foco. e, de repente, uma onda forte vem e me atinge: culpa. me atinge metaforicamente falando, porque ainda to no mesmo lugar. no mesmo sofá, na mesma posição. sofrendo em silêncio. aquilo era comum até demais. se eu tivesse feito as coisas diferente, se eu tivesse dito coisas diferentes, ou se não tivesse dito nada. é, definitivamente não ter dito nada seria melhor, penso. simplesmente aceitar o fracasso e ficar quieta seria bem menos frustrante. a melhor parte -e talvez a única parte que não seja tão ruim assim- de saber exatamente o pedaço de lixo que eu sou e de saber todos os meus defeitos é não me chatear quando as pessoas jogam eles na minha cara. ao invés de fazer isso, eu arrumo a minha cara, como se eu não estivesse sentindo dor de tanto apertar as unhas na minha mão pra conter a raiva e eu faço o que faço de melhor: machucar as pessoas. quando a última palavra sai da minha boca, já sei que o estrago foi feito. culpa. mas já é tarde demais. eu olho pras minhas mãos e tá lá - a marca das unhas. passou. choro. estilete. sangue. arrancar de cabelos. um pedido de socorro tão baixo que ninguém escuta. eu sou uma merda, penso. eu só queria que isso acabasse, penso. sentir. frustração, raiva, dor. culpa. traição. como se os órgãos implodindo de tanto sentir; colocar o dedo na goela pra ver se uma desintoxicação acontece. ou sentir absolutamente um monte de nadas. apatia. vazio. olhar pela janela. onda. culpa, de novo. nunca para.